Durante toda a guerra inúmeras missões tiveram algumas anormalidades pitorescas ou inusitadas. Talvez a missão que transcorreu de forma mais inusitada e cheia de imprevistos foi a realizada pelo Tenente Helio Leitão de Almeida, tendo como co-piloto o Aspirante Roberto Souza Dantas.
Realizavam uma missão de Cobertura Aérea de Comboio no trecho Rio-Caravelas, trecho esse já sob a responsabilidade do 2° Grupo de Patrulha. Para tais missões o avião era abastecido com grande quantidade de combustível, devido à longa duração do voo.
Aqui cabe uma pequena explicação sobre o sistema de combustível do CATALINA. Existiam apenas dois tanques, um em cada asa, com a capacidade de 875 galões cada, perfazendo um total de 1750 galões. A saída de combustível de cada tanque era feita por uma mangueira reforçada ligada diretamente a uma válvula de distribuição de combustível para os motores. Se completamente abastecido com 875 galões em cada tanque, o peso do combustível é de cerca de 3.300 quilos, ou seja, mais de três toneladas.
A tubulação de borracha era reforçada por meio de uma tela metálica que envolvia a parte externa da mangueira, não só para suportar a pressão do peso do combustível, como também para proteger o tubo contra eventuais impactos de projéteis inimigos. Além disso, o tubo era do tipo auto-vedante (self-sealing), para evitar eventuais vazamento. Era prevista a substituição periódica dessas tubulações.
Dia 29 de fevereiro de 1944, durante a missão de Cobertura Aérea de Comboio, quando o avião se encontrava a meio caminho entre Rio e Caravelas, na altura do Cabo de São Tomé, a mangueira de combustível que ligava um dos tanques à válvula de distribuição estourou, fazendo com que tivesse início um grande vazamento para dentro da fuselagem.
O piloto imediatamente comandou o corte de ambos os motores e o desligamento de todos os circuitos elétricos, para evitar o risco de incêndio. Alijou as bombas e veio perdendo altura para um pouso de emergência n’água; por sorte encontrou condições de mar favoráveis, tendo efetuado um pouso sem grandes danos.
Um avião americano PBM MARTIN, que mais tarde sobrevoou a área, localizou pelo radar um pequeno ponto sobre a superfície. Pensando que se tratava de um submarino, iniciou a corrida para o ataque. Ao se aproximar e verificar que se tratava de um CATALINA pousado n’água, passou a sobrevoar o local. O CATALINA, usando sua lâmpada ALDIS de sinalização, transmitiu a mensagem: “Need Help” (Preciso de socorro). O PBM entrou em contato com o Comando da Escolta de um comboio próximo, o qual providenciou o deslocamento do navio caça-minas (conhecido como “caça-ferro”) G-3 GUAÍBA para o local.
Após algumas peripécias, um cabo foi lançado pelo GUAÍBA e amarrado no poste retratável existente do lado esquerdo dianteiro do nariz do avião. Durante o reboque, devido às condições do mar, o cabo arrebentou três vezes, obrigando a novas peripécias.
Após um largo período de tempo, o G-3 e seu CATALINA rebocado entraram pela barra da Baía de Guanabara. O avião, após fundear, foi recolhido a terra pela rampa existente.
Autor Cel. Av. José de Carvalho