A instrução de tiro e bombardeio fazia parte do programa de instrução da Unidade. A tripulação normal do CATALINA era constituída de dois pilotos, dois mecânicos (Q. Av), dois radio-telegrafistas (Q RT-VO) e dois especialistas em armamento (Q. Ar.).
Todos os tripulantes eram submetidos aos exercícios de tiro com as duas ponto cinqüenta das bolhas, com as duas ponto trinta do nariz e uma ponto trinta armada no túnel traseiro do avião. O treinamento de bombardeio era realizado apenas pelos pilotos.
Após a instrução teórica, quando eram enfatizados os cuidados a serem tomados durante a execução dos exercícios, os tripulantes faziam o exercício real.
Para o treinamento de bombardeio rasante, empregado para o ataque a submarinos, usávamos uma ilhota alongada e deserta nas proximidades da Base. Nela era pintado um escantilhão, com os círculos concêntricos afastados de uma determinada distância, o que permitia a avaliação do percentual de acertos de cada piloto. Eram empregadas bombas fumígenas para identificar o local do impacto.
Para o tiro, após clarear a área e ter a certeza da inexistência de qualquer barco nas proximidades, era lançado n’água um marcador de fumaçaa, que funcionava durante uns quarenta minutos antes de se apagar. Os tiros eram feitos tendo o marcador como alvo. Um tripulante atuava como anotador dos impactos, usando um desenho de escantilhão para anotar os impactos.
Após as metralhadoras ponto trinta eram instaladas, duas na torreta do nariz e uma na abertura do alçapão existente no túnel. Os exercícios não exigiam medidas extras de segurança, pois os setores de tiro, para frente e para trás, estavam desimpedidos.
As metralhadoras ponto cinqüenta eram instaladas sobre um pedestal existente em cada bolha lateral. O setor de tiro era limitado pelo ângulo formado pelas marcações de 70 a 120 graus do lado direito e de 240 a 290 graus do lado esquerdo.
Essa limitação era estrutural, pois em cada bolha havia dois batentes metálicos impedindo que a metralhadora ultrapassasse os limites, para não atingir a ponta da asa e seu flutuador, nem a ponta da empenagem horizontal da cauda.
Em nossas vidas ocorrem fatos que não conseguem ser explicados. Foi o que ocorreu num exercício de tiro com a metralhadora ponto cinqüenta da bolha esquerda.
Quando o avião pousou e chegou ao estacionamento, foi observado a existência de um orifício na ponta da asa esquerda e três no flutuador.
Todas as tentativas de explicar o ocorrido foram em vão. O movimento lateral da metralhadora continuava a ser limitado pelo batente metálico dianteiro, o que tornava impossível o tiro atingir o flutuador. Foram feitas várias tentativas em voo, inclusive colocando o cano da metralhadora na marcação 250 graus, iniciar a rajada e, com movimento rápido e brusco, levá-la atirando ao batente limitador. Nada de anormal aconteceu!
Esse fato nunca foi explicado de forma convincente, apesar das várias versões elaboradas.
Autor Cel. Av. José de Carvalho