Era abril de 1951. O 1°/2° GAv., sediado na Base Aérea de Belém contava com mais de uma dezena de aviões. Além dos seis PBY-5A recebidos do Canadá, vários outros aviões tinham sido revisados pelo Parque Aeronáutico de Belém. Praticamente tínhamos mais aviões do que equipagens. Algumas vezes, como ocorria nos desfiles aéreos de 7 de setembro e 23 de outubro, voávamos tendo um tripulante não aviador, normalmente um sargento Q-Av (especialista em aviões) no assento de 2P. Estávamos empenhados em recuperar, na plenitude, a operacionalidade do CATALINA, o que implicava num intenso programa de instrução. Mas devido à elevada disponibilidade de aviões e ao fato do Esquadrão estar subordinado ao Comandante da Base, através do A-3 (Seção de Operações), fazíamos voos administrativos sem prejuízo da instrução prevista no PIPE.
Em 16 de abril o CATALINA 6525 comandado pelo Primeiro Tenente JOSÉ DE FARIA PEREIRA SOBRINHO decolou de Belém conduzindo o General Comandante da Região Militar e oito oficiais do Exército integrantes de uma equipe que faria inspeção no Batalhão de Fronteira sediado em Tabatinga, às margens do Rio Solimões, região onde o Brasil faz fronteira com a Colômbia e Peru.
A primeira etapa, Belém-Manaus, foi cumprida sem alteração.
No dia 17 a aeronave decolou de Manaus e, após seis horas e meia de voo, amerissou no Rio Solimões defronte a pequena cidade de Benjamin Constant, na fronteira com o Peru defronte a cidade de Ramon Castillo.
Como o destino era Tabatinga, onde naquele momento não havia bóia para amarração, a comitiva e a tripulação seguiram de lancha para essa localidade a qual foi atingida após umas 2 horas de lancha. Lá a comitiva pernoitou dias 17 e 18.
No dia 19, após o tradicional hasteamento da bandeira e canto do Hino Nacional, a comitiva regressou a Benjamin Constant. A pedido do General Comandante da Região Militar, a aeronave decolou para um sobrevoo de reconhecimento da fronteira, após o qual o avião retornou a Benjamin Constant, onde amerissou normalmente no Rio Solimões. Após “pegar a bóia de amarração” e cortar os motores, foi constatado um acentuado vazamento de água para dentro do casco do avião. A comitiva foi desembarcada e a tripulação, freneticamente, tentou retirar a água com o auxílio de latas, sem que o nível da inundação no interior do avião diminuísse. O piloto então decidiu efetuar uma decolagem de emergância, colocando um observador para monitorar a área onde ocorria à invasão da água. Essa medida arriscada foi tomada na certeza de que o avião iria afundar devido à inundação, provavelmente causada por um choque com algum pedaço de madeira semi-submerso, Aplicado o procedimento de decolagem curta de emergência, o avião perdeu o contato com a água e alçou voo.
Aí surgiu outro problema: onde pousar! O piloto tinha notícias de que estava sendo construída uma pista na cidade de Letícia, na Colômbia, vizinha de Tabatinga. Ao sobrevoar o local foi constatado de que já havia um trecho de pista construído, suficiente para o pouso do CATALINA. Esse foi o primeiro CATALINA a pousar na pista de Letícia. Torna-se mister assinalar que o avião era um anfíbio, que operava tanto em terra como n’água.
Letícia era a sede de um Regimento do Exército Colombiano, o qual recebia semanalmente suprimento vindo de Bogotá e transportado por aeronaves CATALINA da Força Aérea Colombiana. Esses CATALINA pousavam no rio e amarravam numa bóia existente defronte da cidade. Foi solicitado pelo Tenente Pereira Sobrinho ao Comandante do Regimento colombiano assistência para reparar nosso CATALINA.
Uma equipe vinda de Bogotá efetuou os reparos no casco do 6526. Dia 22 de abril o avião decolou de Letícia e pousou em Benjamin Constant. A comitiva embarcou e o avião decolou com destino a Manaus, de onde regressou a Belém dia 24.
A MISSÃO FOI CUMPRIDA!
Esse episódio proporcionou à tripulação a experiência de passar por momentos de alta tensão diante de uma situação tão anômala quanto imprevisível. As decisões corretas e os procedimentos adotados atestaram, mais uma vez, a competência técnica-profissional dos componentes do 1°/2° G.Av que, durante anos, operavam em rios, lagos e pistas rudimentares e de pequena extensão , participando da nobre tarefa da integração nacional, abrindo caminhos que hoje unem tantos brasileiros, até então entregues á sua própria sorte.
Autor Cel. Av. José de Carvalho